sábado, 22 de setembro de 2012





               O QUE HÁ

O que há pousado em uma brisa outonal
é o mesmo frescor de uma palavra nua;
rodando de mãos dadas com a aura da lua,
leva as andorinhas para um outro litoral.

Quando as Jubartes invadem a praia sua,
um sol frio vigiando as roupas no varal,
espera vestir o trabalhador que não sua
e o que há de poesia neste imenso sarau.

Há cães ladrando pela amizade duradoura,
dona Aranha recita da sua cadeia infinita,
na tarde que cai como Jesus na manjedoura.

O terceiro olho pousando no chão o céu fita
a tez da mãe Terra no poente que se doura
e enaltece o que há dentro de nós que levita.

            
                    Sérgio Brandão, 21.09.2012.



quinta-feira, 13 de setembro de 2012


O aparelho de ser inútil estava jogado no chão, quase
coberto de limos -
Entram coaxos por ele dentro.
Crescem jacintos sobre palavras...”

                           -Manoel de Barros.

     DIZERES DO OUTONO

A falta de polimento das palavras
torna o homem áspero, carrancudo;
Os terrenos que dentro de ti lavras
libertarão o que quer dizer um mudo.
As garras do arado passam bravas
deixando sulcos nas feições da gente
e um dia, o litoral que tanto amavas
surge nos olhos de quem não mente.

Enfrentar o mundo é recuar às vezes
e deixar que ele se resolva sozinho;
viver os dias sem pensar nos meses
e ser escolhido por um novo caminho.
Nem sabemos mais onde fica o ninho
que entorpeceu a prole de prazeres.
Nem a rosa que como um bom vinho
se desfolha em perfumes e dizeres.

Sergio Brandao, 12.09.2012.